BEBER, REZAR E MORRER

EMBRIAGUEZ DE ADOLESCENTES: Riscos e danos

O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp, coordenado pela Dra. Ana Regina Noto, realizou pesquisa* com 5.226 alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio em 37 escolas privadas paulistas e confirma que o consumo de álcool entre adolescente é de 40%. Segundo a pesquisa, a idade média para início do consumo de álcool é 12,5 anos e ocorre na própria casa do adolescente. A pesquisa revela ainda a idade média de 13,5 anos para o inicio do consumo de tabaco, 14 anos para inalantes e 14,5 anos para maconha, cocaína e estimulantes tipo anfetamina (ETA). O estudo identificou que 335 alunos do Ensino Médio são adeptos do binge drinking – que é o consumo de cinco ou mais doses de 14g de álcool, o equivalente a cinco latas de cerveja ou copos de bebida destilada num curto espaço de tempo. Ao ingerir essa dose de álcool o adolescente se coloca situação de vulnerabilidade e expõem sua vida e a de outras pessoas a muitos riscos: brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido, entre outros. Outro dado da pesquisa aponta que a prática do binge drinking, ou seja, de se embriagar, que vem ocorrendo entre adolescentes pertencentes às classes sociais B e A, está associada ao número de vezes que o adolescente sai à noite – 26,7% dos meninos e 21,7% das meninas relataram ter saído à noite de três a cinco vezes ao mês. As saídas noturnas somadas ao consumo de álcool por familiares são apontados pela pesquisa como fatores facilitadores para o adolescente desenvolver a prática binge drinking. Outros fatores que, segundo a pesquisa, predispõem os adolescentes ao risco de consumo de álcool são: pais separados (30%), não confiar em Deus (40%) e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica dos adolescentes também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil. Esta realidade desoladora revela que a dinâmica familiar em que esses adolescentes estão inseridos não está respondendo às necessidades intrínsecas de toda criança/adolescente, quais sejam: afeto, zelo e limites. Mesada farta, carro, roupa de grife, entre outros, não dão conta de preencher a lacuna resultante da falta de afeto e carinho que todo ser precisa receber de seus pais – os primeiros cuidadores. Da mesma forma, a falta de um diálogo acolhedor entre pais e filhos contribui para que a/ criança/adolescente vá trilhando este caminho. Nenhum bem material substitui nossa necessidade básica de receber carinho, afeto e a percepção de pertencimento. Precisamos receber para aprender o processo do autocuidado e a lidar com conflitos inerentes à nossa existência. Pais são os primeiros modelos que tem a criança e o adolescente para alicerçarem sua estrutura psíquica, a qual é tecida com as filigranas recebidas de afeto e zelo – ingredientes indispensáveis para a vinculação e o autocuidado no decorrer de nossa existência. A embriaguez desses adolescentes é o sintoma, é o alerta da angústia, da dor, do vazio de afeto e de zelo que clamam de seus pais.
*Pesquisa publicada em 08/06/2010 pela agência FAPESP.

Dra. Maria Alves

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